domingo, 5 de dezembro de 2010

Depoimentos da cantora cega Sara Bentes sobre o Teatro dos Sentidos.

http://sarabentes.blogspot.com/2010/11/teatro-dos-sentidos.html#comment-form

Teatro dos Sentidos
Uma experiência inesquecível... Hoje, por força desses encontros mágicos do destino, conheci o Teatro dos Sentidos, e assisti à peça encenada por eles: Feliz Ano Novo. Nem sei se posso dizer que “assisti”, talvez eu possa dizer, assim como todos da plateia, que participei da peça Feliz Ano Novo. É isso mesmo, o grupo teatral do Rio de Janeiro Teatro dos Sentidos, dirigido pela atriz e escritora Paula Wenke, desenvolveu um trabalho voltado especialmente para a tchurma do apagão, mas quem enxerga é igualmente bem vindo na plateia e, com uma venda nos olhos, tem a oportunidade de mergulhar no espetáculo da mesma forma que nós, deleitando-se com todos os outros sentidos fora a visão. Sim, todos mesmo! E as surpresas que tive com meus outros sentidos sendo provocados foi um dos pontos fortes da minha imensa emoção. Primeiro me surpreendi ao sentir os aromas de elementos presentes na narrativa. Logo depois, qual não foi minha surpresa quando os personagens compartilharam com a plateia comidas que compunham a cena, como biscoitos de chocolate, pipoca salgadinha (e eu sonhei pelo resto da peça com aquela bacia de pipoca passando de novo pela minha mão... ), e até champanhe para comemorar com eles a virada do ano. No carnaval da história, confetes e cerpentinas eram jogados abundantemente sobre nós, como uma chuvinha gostosa de alegria e surpresa. Sons dos mais variados tipos, produzidos pelos atores bem próximo da plateia, assustavam, emocionavam, faziam rir, criavam ansiedade, acariciavam, e sobretudo nos levavam para dentro das cenas. Esses sons e mais duas narradoras complementavam nosso imaginário com todas as informações necessárias para a total compreensão da trama, como uma espécie de audiodescrição, bem interativa e particular. Claro que a música também marcou presença, desde o começo, mas de repente um violino tocado ao vivo chegou surpreendendo e rasgando a emoção. Situações divertidas, comoventes, românticas, lúdicas e até de extrema tensão, como o naufrágio de um navio, foram vividas por todos nós.

Os textos e poemas de Paula, junto à brilhante atuação de todos os atores, inclusive mirins, conduziam com encanto aquela experiência inédita e inesquecível. Depois de comer, beber, rir e chorar (bastante...), ser convidada a acariciar o rosto de um personagem, sentir brisa, sereno, interagir com os bichos de uma fazenda, participar de um naufrágio, de um carnaval, de um reveillon, ouvir de perto o canto dos atores, recebi uma rosa, de verdade e sem espinhos. Despetalei-a inteira, enquanto transbordava de mim tudo aquilo intimamente mexido e tocado por aqueles carinhos que chegaram na alma através dos sentidos. As pétalas se soltavam entre meus dedos uma a uma à medida que se desenrolava o fim da peça, aquele auge de bagunça gostosa nas lembranças mais profundas, conscientes e inconscientes, quando todos os sons, todos os cheiros, todas as texturas já experimentadas durante o espetáculo, agora nos provocavam todos de uma vez, passeando entre a plateia, passando bem perto, afastando-se, como num sonho louco, como num momento especial da vida em que se repassa na mente as vivências mais marcantes. Depois de tanta emoção, derramei minhas pétalas sobre a Paula, foi minha homenagem e meu agradecimento.

Tudo isso aconteceu esta tarde na Ilha d´água, num evento interno da Petrobrás, em que participei cantando. Ao deixarmos a ilha, numa grande lancha, fomos todos juntos: eu, o violonista que me acompanhou, meu querido amigo Júlio Ribeiro, funcionários da empresa e todo o elenco da peça. Quando eu entrava na embarcação, uma vozinha gentil e acolhedora me ofereceu ajuda antes de qualquer outra; o dono da voz pegou-me pela mão e me orientou para sentar ali, num lugar vago ao seu lado. Na confusão do momento agitado, nem pude reconhecer a voz e nem perceber o tamanho daquela mãozinha, só depois que me acomodei no banquinho foi que descobri que quem estava ao meu lado e me ajudara com tanta naturalidade era o ator mais jovem do elenco, Yorran, de 10 anos de idade. Batemos um papão, e mais lindo que ouvi-lo falando sobre o público alvo daquele espetáculo, as pessoas com deficiência visual, falando sobre inclusão, foi ver e confirmar mais uma vez que projetos como este deixam suas marcas em quem assiste, em quem atua, em quem promove, em tantos quantos estiverem envolvidos. No desembarque, Yorran foi quem de novo fez questão de me ajudar e me guiar até a terra firme. No caminho mostrei a ele que o perfume da rosa ficara em minha mão, e continua até agora. Que o perfume da sensibilidade, da inclusão, das grandes ideias, fique nas mãos, na alma, na vida de todos , e que o Teatro dos Sentidos possa deixar seu rastro bom nos caminhos de cada vez mais plateias!

Feliz Ano Novo está em cartaz na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro até o próximo domingo, dia 28. Já é a segunda temporada do grupo na Caixa; a primeira fez tanto sucesso que foi preciso repetir a dose. Divulgue, convide seus amigos e confira! Na verdade a maior parte do público que tem comparecido não tem deficiência visual, e todos saem maravilhados com a experiência multi sensorial.

Teatro dos Sentidos - Feliz Ano Novo
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro
Av. Almirante Barroso, 25 - Centro
Tel.: (21) 2544-4080
Data: 23 a 28 de novembro de 2010
Horário: 19h30
Valor: R$15 (inteira) e R$7,50 (meia)
Capacidade: 150 lugares mais 4 para cadeirantes
Acesso para portadores de necessidades especiais
Classificação etária: 12 anos

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Carta à Diretora Paula Wenke por Igo Ribeiro.

Estou num projeto de teatro, extremamente instigante, para estreiar em outubro no TEATRO DE ARENA CAIXA CULTURAL: TEATRO DOS SENTIDOS.

O Teatro dos Sentidos é uma nova técnica de encenação teatral idealizada, por Paula Wenke, especialmente para uma platéia de deficientes visuais ou com os olhos vendados e é caracterizada pela utilização de textos particularmente adaptados e pela máxima estimulação dos sentidos remanescentes (audição, olfato, tato e paladar). Dessa forma, é possível trazer ao espectador uma enorme riqueza de sensações e total compreensão da história encenada.

Tivemos 2 laboratórios, interessantíssimos, onde os atores experimentaram a sensação de estar de olhos vendados. Um, no Jardim Botânico e o outro, na noite de Copacabana. Embora a experiência não fosse nova para mim, já que já venho trabalhando no escuro em várias oportunidades (Noturno - Oswaldo Montenegro, Drácula- acrobacia aérea, Confissões de Entendido e outros), sempre algo de novo e surpreendente acontece.

Ontem, a sensação de SEGURANÇA, LIBERDADE E PRAZER em estar, de olhos vendados, e conduzido pelas ruas de Copacabana por uma pessoa que nunca tinha visto na minha vida, foi sensacional.

Muito ansioso para o início dos ensaios e a reação da platéia.



Posto, aqui, uma carta direcionada à nossa diretora. A querida Paula Wenke (http://www.paulawenke.com/paula-wenke/pt/home/index.htm).

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CAIXA Cultural Rio REEXIBE O SUCESSO ‘FELIZ ANO NOVO’

Plateia poderá experimentar novamente a técnica radical e inovadora do Teatro dos Sentidos

O sucesso foi tão grande que a CAIXA Cultural Rio de Janeiro, em parceria com a produção do espetáculo, decidiu trazer de volta “Feliz Ano Novo”, que teve casa lotada todos os dias de apresentação em sua primeira temporada no início do mês de outubro. Nesta segunda oportunidade, o público poderá “assistir” à peça do dia 23 a 28 de novembro, às 19h30.

O espetáculo “Feliz Ano Novo” foi escrito e dirigido pela criadora do Teatro dos Sentidos, Paula Wenke, que desenvolveu a técnica de encenação concebida especialmente para uma plateia que permanece durante o espetáculo com os olhos vendados, ou mesmo para deficientes visuais que compreendem totalmente a obra encenada. No espetáculo são explorados os sentidos remanescentes: audição, tato, olfato e paladar.

“Fazemos teatro para revelar algo para a plateia. Somos como um espelho. Vendamos o público para que ele perceba o quanto é possível e prazeroso abrir outros canais de percepção oprimidos pelo sentido da visão, o mais norteador e pleno de valores, até os mais preconceituosos. Sugerimos a “intravisão”, ao contrário da Televisão. Tele=distante. Intra=dentro. A construção das imagens se dá no próprio universo imagético de cada um”, ressalta Paula.

Também poeta, Paula Wenke escreve um texto dinâmico em que há romance, ação, comédia, drama e absoluto lirismo. E tudo isso com uma linguagem, situações e reflexões atuais. “Escrevi esta peça pensando em montá-la nos moldes do Teatro dos Sentidos. Então exploro sem preocupações as mudanças de cenário, que no teatro comum são sempre um cuidado extra. O som nos leva a qualquer lugar, os aromas, as características do ar.”

Como autora, diretora e atriz, Paula percebe que a diferença da reação do público de olhos vendados e a do público cego é completamente diferente. O deficiente visual fica extremamente feliz, alegre por sua total independência momentânea. Compreende absolutamente tudo. Naqueles instantes de espetáculo, para ele, o mundo é perfeito, feito sob medida. Já os videntes que se entregam à experiência saem completamente tocados, emocionados com a simplicidade e eficácia da proposta. E com a profundidade do espetáculo aprendem a valorizar sua capacidade de enxergar, mas desenvolvendo ainda mais todos os outros sentidos ali aguçados e muitas vezes esquecidos nesse mundo de alta conexão virtual, mas de pouca conectividade. Com os videntes, curiosamente, a emoção transborda porque ao entrar em contato com o seu próprio imaginário, eles entram em contato com a memória de experiências vividas. Ficando no centro da encenação, do “cenário”, entre os atores, eles se sentem como se estivessem dentro de um livro. “É um livro em 3D”, diz a plateia.

Teatro dos sentidos (história)
Paula Wenke, a princípio, queria fazer um espetáculo para cegos porque considerava serem os únicos que não entendiam totalmente uma obra encenada. Quando ela mesma se colocou como plateia de sua própria criação, pôde perceber o quanto a experiência poderia ser interessante para qualquer tipo de público.

Suas pesquisas começaram em 1997, com seus alunos da Casa da Gávea. Esteve em Paris conversando com Ariane Mnouchkine, diretora de teatro e cinema francesa, de renome mundial, fundadora do Théâtre du Soleil em Paris. Uma diretora ligada principalmente ao teatro de vanguarda, sua vitoriosa trajetória representa um marco na entrada da mulher num mercado de trabalho majoritariamente masculino. Sua produções no Théâtre du Soleil são frequentemente encenadas em espaços diferentes como ginásios, celeiros, porque Mnouchkine não gosta de estar confinada a palcos tradicionais ou ao palco italiano. Ao saber da proposta do Teatro dos Sentidos, a diretora convidou Paula Wenke a levar o trabalho para sua cia. Mas, para tanto, precisaria de ver o trabalho em vídeo. Apenas seis anos depois, com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, tais imagens puderam ser feitas com um elenco de atores profissionais.

“O Teatro dos Sentidos deu o seu primeiro pontapé para o mundo na CAIXA Cultural Rio de Janeiro; começamos em um teatro de arena, assim como Boal começou o seu importante Teatro do Oprimido”, conta a diretora.

Antes, Paula Wenke se apresentava com alunos e apenas nas instituições de cegos.


Serviço
TEATRO DOS SENTIDOS – “Feliz Ano Novo”
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (estação metrô Carioca) – Rio de Janeiro (RJ)
Informações: (21) 2544-4080
Datas: de 23 a 28 de novembro de 2010
Horário: 19h30
Ingresso: R$ 15 (inteira) / estudantes e idosos pagam meia / Grátis para deficientes
Classificação: 12 anos
Duração: 50 minutos
Bilheteria: de terça a domingo, de 10h às 20h
Lotação máxima do teatro: 150 lugares (mais 04 para cadeirantes)
Acesso para portadores de necessidades especiais
Acesse a programação da CAIXA Cultural: www.caixa.gov.br/caixacultural