"Feliz Ano Novo" foi um dos melhores espetáculos teatrais que assisti nesses últimos tempos. Produzido pela diretora Paula Wenke, a peça surpreende pela inovação e ousadia dos recursos teatrais. Paula e elenco teatral instiga-nos a acompanhar a peça usando quatro de nossos sentidos, exceto o da visão e, o resultado é um reencontro delicioso com nosso olfato, paladar, tato e audição. Confesso que deixei-me levar languidamente pelas emoções das vozes dos personagens, dos climas amorosos, pelos odores, pela degustação e, especialmente, pelo coração.Tive certeza de que nosso melhor sentido é o da intuição. Parabéns, Paula, pela ousadia, criatividade e pelos momentos tão agradáveis que nos propiciou com a provocação de nossos sentidos.
E tomara que a peça volte à cartaz o mais breve possível.
Beijos
De: Marisa Queiroz
Teatro dos Sentidos
sábado, 17 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Críticas.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
“FELIZ ANO NOVO” PROVOCA EXPERIÊNCIA SENSORIAL
Texto e fotos Renato Landim
A partir de uma conversa com seu filho, o pai relembra um encontro num réveillon com a mulher que foi o amor de sua vida. Essa é a linha mestra da peça Feliz Ano Novo, do Teatro dos Sentidos, que neste fim de semana encerra sua temporada no Espaço do Museu do Universo do Planetário da Gávea. Entretanto, a proposta do grupo é de uma experiência sensorial na qual cada pessoa da plateia compreende o espetáculo de forma particular.
Antes de entrar na área da peça, o público recebe uma venda nos olhos e, dessa forma, deficientes visuais e videntes ficam em igualdades de condições. Durante a encenação, são estimulados o olfato, o paladar, a audição e o tato. Menos a visão. “Foi incrível. Essa é uma experiência na qual todas as pessoas deveriam passar, sendo um exercício de se colocar no lugar do outro”, destacou a empresária e cantora Ana Paula Cuba, que acompanhava a deficiente visual Ivete Rita. Ela revelou que, por algumas vezes, perdeu a compreensão de certas situações, pois o elemento visual é muito forte.
Acompanhada de Jimmy, seu cão guia, e de sua filha, a advogada Deborah Prates disse ter adorado a proposta da peça, pois sempre defendeu que a sociedade precisasse fazer o que classificou de “troca de máscara”, entendendo assim a realidade das pessoas que não enxergam. Ela ressaltou o fato de o espetáculo provocar em cada um a busca por um novo olhar sobre a narrativa. “Para os cegos não foi um desafio, mas um imenso prazer” revelou a advogada, acrescentando que entender uma atração cultural sem o recurso da audiodescrição é tudo o que deficiente visual deseja.
Ainda se refazendo da experiência com aromas, mugidos de vacas, champange, entre outros, a secretária Júlia Medeiros contou ter ficado encantada com a proposta da peça. “Nunca tinha sentido isso. Eu de fato me senti participando da história e, como tenho medo do mar, fiquei aflita com a cena do navio balançando. Fiquei com medo”, descreveu em meio a risos e procurando água para voltar à calma.
A autora, diretora do espetáculo e idealizadora do Teatro dos Sentidos, Paula Wenke, atribuiu a sua formação cristã o fato de suas realizações sempre privilegiarem o semelhante. “A princípio, as pessoas desconfiam, mas acabam se surpreendendo, pois ativam a memória, o imaginário”, ressalta. Além de trazer o público ao universo dos deficientes visuais com a peça, Paula salienta que incluiu no elenco pessoas que ela classifica de diferentes, como anãos, obesos e gays, entre outros, depois de certa vez ter sido indagada por um cadeirante de que poderia fazer o papel do comandante na trama.
“Feliz Ano Novo” terá sessões neste sábado e domingo, às 20h, na Gávea. Os ingressos custam R$ 30, 00. De acordo com a administração do Planetário, o espaço reúne condições de acessibilidade.
“FELIZ ANO NOVO” PROVOCA EXPERIÊNCIA SENSORIAL
Texto e fotos Renato Landim
A partir de uma conversa com seu filho, o pai relembra um encontro num réveillon com a mulher que foi o amor de sua vida. Essa é a linha mestra da peça Feliz Ano Novo, do Teatro dos Sentidos, que neste fim de semana encerra sua temporada no Espaço do Museu do Universo do Planetário da Gávea. Entretanto, a proposta do grupo é de uma experiência sensorial na qual cada pessoa da plateia compreende o espetáculo de forma particular.
Antes de entrar na área da peça, o público recebe uma venda nos olhos e, dessa forma, deficientes visuais e videntes ficam em igualdades de condições. Durante a encenação, são estimulados o olfato, o paladar, a audição e o tato. Menos a visão. “Foi incrível. Essa é uma experiência na qual todas as pessoas deveriam passar, sendo um exercício de se colocar no lugar do outro”, destacou a empresária e cantora Ana Paula Cuba, que acompanhava a deficiente visual Ivete Rita. Ela revelou que, por algumas vezes, perdeu a compreensão de certas situações, pois o elemento visual é muito forte.
Acompanhada de Jimmy, seu cão guia, e de sua filha, a advogada Deborah Prates disse ter adorado a proposta da peça, pois sempre defendeu que a sociedade precisasse fazer o que classificou de “troca de máscara”, entendendo assim a realidade das pessoas que não enxergam. Ela ressaltou o fato de o espetáculo provocar em cada um a busca por um novo olhar sobre a narrativa. “Para os cegos não foi um desafio, mas um imenso prazer” revelou a advogada, acrescentando que entender uma atração cultural sem o recurso da audiodescrição é tudo o que deficiente visual deseja.
Ainda se refazendo da experiência com aromas, mugidos de vacas, champange, entre outros, a secretária Júlia Medeiros contou ter ficado encantada com a proposta da peça. “Nunca tinha sentido isso. Eu de fato me senti participando da história e, como tenho medo do mar, fiquei aflita com a cena do navio balançando. Fiquei com medo”, descreveu em meio a risos e procurando água para voltar à calma.
A autora, diretora do espetáculo e idealizadora do Teatro dos Sentidos, Paula Wenke, atribuiu a sua formação cristã o fato de suas realizações sempre privilegiarem o semelhante. “A princípio, as pessoas desconfiam, mas acabam se surpreendendo, pois ativam a memória, o imaginário”, ressalta. Além de trazer o público ao universo dos deficientes visuais com a peça, Paula salienta que incluiu no elenco pessoas que ela classifica de diferentes, como anãos, obesos e gays, entre outros, depois de certa vez ter sido indagada por um cadeirante de que poderia fazer o papel do comandante na trama.
“Feliz Ano Novo” terá sessões neste sábado e domingo, às 20h, na Gávea. Os ingressos custam R$ 30, 00. De acordo com a administração do Planetário, o espaço reúne condições de acessibilidade.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Cinthia Buarque, atriz provocadora, falando sobre a experiência de atuar no Teatro dos Sentidos.
...Me cadastrei e, uns meses depois fui chamada para participar do projeto mais lindo que já participei na minha vida, projeto esse que me fez repensar várias coisas, o "Teatro dos Sentidos"....Paula, minha mestra dos palcos. Foi com você que aprendi o que é ser ator (a). Aprendi a ter sensibilidade para entender que o diretor é quem dá as coordenadas.
Rio, 27 de novembro.
Hoje fui assistir Feliz Ano Novo, espetáculo Do Teatro Dos Sentidos com texto e direção Paula Wenke no Planetário Da Gávea.
O tema mostra, para plateia de olhos vendados, a percepção dos cinco sentidos: olfato, paladar, tato, visão e audição, numa viagem imaginaria pelo mundo do "desconhecido". É encenada por atores reais que nos conduzem a vivenciar maravilhas, jamais vistas e sentidas, por aqueles que possuem os olhos bem abertos para o mundo e nada enxergam. Vale a pena conferir para se emocionar, rir, cantar e se divertir além de degustar guloseimas durante o espetáculo. Parabéns à equipe DO TEATRO DOS SENTIDOS.
Gualdino Calixto, no facebook.
Hoje fui assistir Feliz Ano Novo, espetáculo Do Teatro Dos Sentidos com texto e direção Paula Wenke no Planetário Da Gávea.
O tema mostra, para plateia de olhos vendados, a percepção dos cinco sentidos: olfato, paladar, tato, visão e audição, numa viagem imaginaria pelo mundo do "desconhecido". É encenada por atores reais que nos conduzem a vivenciar maravilhas, jamais vistas e sentidas, por aqueles que possuem os olhos bem abertos para o mundo e nada enxergam. Vale a pena conferir para se emocionar, rir, cantar e se divertir além de degustar guloseimas durante o espetáculo. Parabéns à equipe DO TEATRO DOS SENTIDOS.
Gualdino Calixto, no facebook.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Aos namorados...
O teu beijo resume
Todas as sensações dos meus sentidos
A cor, o gosto, o tato, a música, o perfume
Dos teus lábios acesos e estendidos
Fazem a escala ardente com que acordas o fauno encantador
Que, na lira sensual de cinco cordas,
Tange a canção do amor!
E o tato mais vibrante,
O sabor mais sutil, a cor mais louca,
O perfume mais doido, o som mais provocante
Moram na flor triunfal da tua boca!
Flor que se olha, e ouve, e toca, e prova, e aspira;
Flor de alma, que é também
Um acorde em minha lira,
Que é meu mal e é meu bem...
Se uma emoção estranha
o gosto de uma fruta, a luz de um poente -
chega a mim, não sei de onde, e bruscamente ganha
qualquer sentido meu, é a ti somente
que ouço, ou aspiro, ou provo, ou toco, ou vejo...
E acabo de pensar
Que qualquer emoção vem de teu beijo
Que anda disperso no ar...
De: Mario Filho
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Teatro dos Sentidos no Congresso de Artes e Saúde da Unicamp
Gabriela Marelttli da Equipe de organização do VI CASU - Congresso de Artes e Saúde da Unicamp - viu uma matéria sobre o projeto Teatro dos Sentidos e considerou muito interessante. Entrou em contato com a nossa Diretora Artística Paula Wenke para saber se existe a possibilidade de sua participação no congresso, seja dando uma palestra sobre o projeto e o efeito que tem nos cegos, ou seja com uma apresentação.
Congresso de Artes e Saúde da Unicamp é um evento voltado para alunos da graduação dos cursos da área de saúde que visa humanizar os estudantes e difundir a arte como um meio terapêutico. O evento é composto por palestras, apresentações artísticas e oficinas culturais, de modo à realmente envolver os alunos nos temas discutidos.
Congresso de Artes e Saúde da Unicamp é um evento voltado para alunos da graduação dos cursos da área de saúde que visa humanizar os estudantes e difundir a arte como um meio terapêutico. O evento é composto por palestras, apresentações artísticas e oficinas culturais, de modo à realmente envolver os alunos nos temas discutidos.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Rodrigo Grota no Facebook.
nessa época eu era assistente de um pintor. ele já estava cego mas continuava a fazer retratos. todas as manhãs nos levantávamos, eu preparava o chá, arrumava o toca discos e ouvíamos wagner. ele dizia que wagner queria explodir o mundo e que hoje ninguém mais quer explodir o mundo. ouvíamos tristão e isolda religiosamente antes de iniciar os trabalhos.
as pessoas chegavam ao ateliê e conversavam com o mestre. ele não precisava ver o rosto, não precisava tocar a sua face – ele se guiava apenas pela voz. seus retratos não eram figurativos – havia a cor, o contorno, a expressão. as pessoas se surpreendiam – ele destacava aquilo que elas só ousavam ler em voz baixa.
um dia você se aproximou – começo de outono, acho que tinha acabado de acordar. não havia ninguém no ateliê ainda – você disse apenas uma palavra: “perto”. o mestre pediu a minha atenção e de uma forma muito cortês explicou que precisava sair. e antes de um tímido sorriso deixou claro que esse seria o meu primeiro retrato. “aquilo que você vê não é o mais importante. ela quer justamente o que você desconhece”.
inicialmente não pude olhar para o seu rosto. eu observava tudo de uma forma geral, sem me prender a nenhum detalhe. vi a sua bolsa sobre a cadeira – um jornal enrolado saindo pelo lado de cima. um maço quase vazio, um isqueiro. procurei por uma blusa – você sentia a janela semi-aberta.
devido aos seus pequenos gestos, pensei que o primeiro passo seria se fixar no movimento. o seu ritmo era interno – tudo estava em harmonia. ao acender um cigarro, você demonstrava sua fragilidade. quando evitava o meu olhar, eu percebia a sua força. havia o desvio, a luz suave e o silêncio. você nunca disse nada, não pediu algo para beber, nem perguntou porque aquele livro do iberê camargo estava ali semi-aberto sobre a minha mesa. não duvidou do tom azul, do quase rascunho, nem se incomodou com o fato de que eu estava a pintá-la de costas. eu não queria mais ver o seu rosto, não queria sentir aquilo que está presente – você chegava em mim por meio de uma série de ausências, evocações, vestígios. eu só poderia ficar de costas.
eu sentia em cada traço que sua imobilidade era apenas um desejo meu. por mais que eu desenhasse o fluxo, expressasse uma certa instabilidade, as cores sempre me seduziam, eu a idealizava de uma forma irresistível.
recuei e voltei a observá-la de frente. você me encarava como se ainda não tivesse despertado. eu me aproximei da sua bolsa e encontrei um último cigarro. ficamos a observar o quadro – estava incompleto, as cores ainda não haviam se fixado – mas você estava ali. você estava naquele pequeno movimento interno, naquela voz invisível, naquelas linhas que evocavam o desvio.
você se aproximou, e no seu rosto havia uma incerteza. ali estava a dor, a impermanência, uma fragilidade que não te deixava mais suave. você disse: “your eyes... like a dylan song”.
eu saberia que você nunca mais estaria próxima.
eu saberia que a partir daquele momento o encantamento...
(o outono era apenas suave)
seu retrato permaneceu inacabado na minha mesa.
ao lado do livro do iberê, das fotos do bacon e de um estudo de hopper.
o mestre voltou ao ateliê minutos depois e apenas me perguntou do wagner.
eu achava que explodir o mundo me libertaria.
o seu rosto, apenas.
as pessoas chegavam ao ateliê e conversavam com o mestre. ele não precisava ver o rosto, não precisava tocar a sua face – ele se guiava apenas pela voz. seus retratos não eram figurativos – havia a cor, o contorno, a expressão. as pessoas se surpreendiam – ele destacava aquilo que elas só ousavam ler em voz baixa.
um dia você se aproximou – começo de outono, acho que tinha acabado de acordar. não havia ninguém no ateliê ainda – você disse apenas uma palavra: “perto”. o mestre pediu a minha atenção e de uma forma muito cortês explicou que precisava sair. e antes de um tímido sorriso deixou claro que esse seria o meu primeiro retrato. “aquilo que você vê não é o mais importante. ela quer justamente o que você desconhece”.
inicialmente não pude olhar para o seu rosto. eu observava tudo de uma forma geral, sem me prender a nenhum detalhe. vi a sua bolsa sobre a cadeira – um jornal enrolado saindo pelo lado de cima. um maço quase vazio, um isqueiro. procurei por uma blusa – você sentia a janela semi-aberta.
devido aos seus pequenos gestos, pensei que o primeiro passo seria se fixar no movimento. o seu ritmo era interno – tudo estava em harmonia. ao acender um cigarro, você demonstrava sua fragilidade. quando evitava o meu olhar, eu percebia a sua força. havia o desvio, a luz suave e o silêncio. você nunca disse nada, não pediu algo para beber, nem perguntou porque aquele livro do iberê camargo estava ali semi-aberto sobre a minha mesa. não duvidou do tom azul, do quase rascunho, nem se incomodou com o fato de que eu estava a pintá-la de costas. eu não queria mais ver o seu rosto, não queria sentir aquilo que está presente – você chegava em mim por meio de uma série de ausências, evocações, vestígios. eu só poderia ficar de costas.
eu sentia em cada traço que sua imobilidade era apenas um desejo meu. por mais que eu desenhasse o fluxo, expressasse uma certa instabilidade, as cores sempre me seduziam, eu a idealizava de uma forma irresistível.
recuei e voltei a observá-la de frente. você me encarava como se ainda não tivesse despertado. eu me aproximei da sua bolsa e encontrei um último cigarro. ficamos a observar o quadro – estava incompleto, as cores ainda não haviam se fixado – mas você estava ali. você estava naquele pequeno movimento interno, naquela voz invisível, naquelas linhas que evocavam o desvio.
você se aproximou, e no seu rosto havia uma incerteza. ali estava a dor, a impermanência, uma fragilidade que não te deixava mais suave. você disse: “your eyes... like a dylan song”.
eu saberia que você nunca mais estaria próxima.
eu saberia que a partir daquele momento o encantamento...
(o outono era apenas suave)
seu retrato permaneceu inacabado na minha mesa.
ao lado do livro do iberê, das fotos do bacon e de um estudo de hopper.
o mestre voltou ao ateliê minutos depois e apenas me perguntou do wagner.
eu achava que explodir o mundo me libertaria.
o seu rosto, apenas.
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