Plateia poderá experimentar novamente a técnica radical e inovadora do Teatro dos Sentidos
O sucesso foi tão grande que a CAIXA Cultural Rio de Janeiro, em parceria com a produção do espetáculo, decidiu trazer de volta “Feliz Ano Novo”, que teve casa lotada todos os dias de apresentação em sua primeira temporada no início do mês de outubro. Nesta segunda oportunidade, o público poderá “assistir” à peça do dia 23 a 28 de novembro, às 19h30.
O espetáculo “Feliz Ano Novo” foi escrito e dirigido pela criadora do Teatro dos Sentidos, Paula Wenke, que desenvolveu a técnica de encenação concebida especialmente para uma plateia que permanece durante o espetáculo com os olhos vendados, ou mesmo para deficientes visuais que compreendem totalmente a obra encenada. No espetáculo são explorados os sentidos remanescentes: audição, tato, olfato e paladar.
“Fazemos teatro para revelar algo para a plateia. Somos como um espelho. Vendamos o público para que ele perceba o quanto é possível e prazeroso abrir outros canais de percepção oprimidos pelo sentido da visão, o mais norteador e pleno de valores, até os mais preconceituosos. Sugerimos a “intravisão”, ao contrário da Televisão. Tele=distante. Intra=dentro. A construção das imagens se dá no próprio universo imagético de cada um”, ressalta Paula.
Também poeta, Paula Wenke escreve um texto dinâmico em que há romance, ação, comédia, drama e absoluto lirismo. E tudo isso com uma linguagem, situações e reflexões atuais. “Escrevi esta peça pensando em montá-la nos moldes do Teatro dos Sentidos. Então exploro sem preocupações as mudanças de cenário, que no teatro comum são sempre um cuidado extra. O som nos leva a qualquer lugar, os aromas, as características do ar.”
Como autora, diretora e atriz, Paula percebe que a diferença da reação do público de olhos vendados e a do público cego é completamente diferente. O deficiente visual fica extremamente feliz, alegre por sua total independência momentânea. Compreende absolutamente tudo. Naqueles instantes de espetáculo, para ele, o mundo é perfeito, feito sob medida. Já os videntes que se entregam à experiência saem completamente tocados, emocionados com a simplicidade e eficácia da proposta. E com a profundidade do espetáculo aprendem a valorizar sua capacidade de enxergar, mas desenvolvendo ainda mais todos os outros sentidos ali aguçados e muitas vezes esquecidos nesse mundo de alta conexão virtual, mas de pouca conectividade. Com os videntes, curiosamente, a emoção transborda porque ao entrar em contato com o seu próprio imaginário, eles entram em contato com a memória de experiências vividas. Ficando no centro da encenação, do “cenário”, entre os atores, eles se sentem como se estivessem dentro de um livro. “É um livro em 3D”, diz a plateia.
Teatro dos sentidos (história)
Paula Wenke, a princípio, queria fazer um espetáculo para cegos porque considerava serem os únicos que não entendiam totalmente uma obra encenada. Quando ela mesma se colocou como plateia de sua própria criação, pôde perceber o quanto a experiência poderia ser interessante para qualquer tipo de público.
Suas pesquisas começaram em 1997, com seus alunos da Casa da Gávea. Esteve em Paris conversando com Ariane Mnouchkine, diretora de teatro e cinema francesa, de renome mundial, fundadora do Théâtre du Soleil em Paris. Uma diretora ligada principalmente ao teatro de vanguarda, sua vitoriosa trajetória representa um marco na entrada da mulher num mercado de trabalho majoritariamente masculino. Sua produções no Théâtre du Soleil são frequentemente encenadas em espaços diferentes como ginásios, celeiros, porque Mnouchkine não gosta de estar confinada a palcos tradicionais ou ao palco italiano. Ao saber da proposta do Teatro dos Sentidos, a diretora convidou Paula Wenke a levar o trabalho para sua cia. Mas, para tanto, precisaria de ver o trabalho em vídeo. Apenas seis anos depois, com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, tais imagens puderam ser feitas com um elenco de atores profissionais.
“O Teatro dos Sentidos deu o seu primeiro pontapé para o mundo na CAIXA Cultural Rio de Janeiro; começamos em um teatro de arena, assim como Boal começou o seu importante Teatro do Oprimido”, conta a diretora.
Antes, Paula Wenke se apresentava com alunos e apenas nas instituições de cegos.
Serviço
TEATRO DOS SENTIDOS – “Feliz Ano Novo”
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (estação metrô Carioca) – Rio de Janeiro (RJ)
Informações: (21) 2544-4080
Datas: de 23 a 28 de novembro de 2010
Horário: 19h30
Ingresso: R$ 15 (inteira) / estudantes e idosos pagam meia / Grátis para deficientes
Classificação: 12 anos
Duração: 50 minutos
Bilheteria: de terça a domingo, de 10h às 20h
Lotação máxima do teatro: 150 lugares (mais 04 para cadeirantes)
Acesso para portadores de necessidades especiais
Acesse a programação da CAIXA Cultural: www.caixa.gov.br/caixacultural